Cadeira Bacalhau

02jun24

Cadeira de três pés, muito comum na região de Tiradentes (Minas Gerais), é única em seu desenho. Seu estilo é rústico, de construção simples e manual, e sempre ornamentada com entalhes. Pequenas e estáveis, são ótimas em salas de estar ou em ambientes externos com cobertura. As peças que compõem o encosto e o assento são feitos de maciços inteiros, o que acaba gerando grande perda de material.

Fábio Campos, aluno do nosso curso de marcenaria, propôs construí-la a partir de uma cadeira original, de forma mais precisa e simétrica, e sem os entalhes ornamentais. Então, a nossa primeira providência foi desenhá-la.

Em seguida, ao planejar o corte, o problema foi decidir qual a dimensão de madeira maciça que utilizaríamos para este trabalho. Para evitar a compra de maciços com dimensões e custos enormes, a solução foi utilizar diversas emendas para compor as peças principais.

Escolhemos Cedro rosa (Cedrela fissilis) para a nossa cadeira, madeira leve, resistente e amigável ao trabalho. Precisamos apenas de duas pranchinhas brutas com 38mm de espessura. Desde que as colagens fossem bem feitas, com as peças bem faceadas, o conjunto conformaria uma estrutura tão (ou mais) resistente quanto uma cadeira feita com maciços integrais.

Após o aparelhamento, as peças foram unidas com cola PVA, Titebond III. Com o encosto e o assento montados, começamos a abrir as caixas para uma falsa espiga, e os furos para o encaixe dos pés. Utilizamos uma furadeira horizontal, a nossa velha combinada Acerbi, com uma broca de dois canais.

Na marcenaria, é importante resolver os encaixes antes de modelar as peças.

Em seguida, os cortes foram feitos na serra de fita. As curvas mais fechadas foram sangradas, conforme mostra a imagem acima, para abrir espaço para a lâmina.

Com os cortes prontos, ameaçamos as peças para verificar o encaixe, sem penetrar completamente a tala.

Para desbastar as curvas internas do assento e do encosto, fizemos uma lixadeira de rolo, adaptada ao torno de madeira. Com uma lixa de gramatura 80, rapidamente chegamos às dimensões finais. As partes retas foram desbastadas com plaina manual, e utilizamos uma raspilha para finalizar o desbaste e para retirar as marcas da lixa 80 e de madeira revessa.

As pernas foram torneadas, começando pelos pinos.

Finalizamos as pernas com um formato cônico, com as faces preservadas na parte inferior, em acordo com o modelo original.

Para a fixação do encosto e do assento, foi necessário improvisar um ponto de apoio para acomodar os grampos, conforme mostra a imagem.

Iniciamos o acabamento antes de montar as peças. Utilizamos lixas de gramatura 100, 150 e 220. As arestas foram parcialmente embotadas com uma tupia rebordeadeira.

Com as peças limpas e bem lixadas, tingimos as peças com tingidor vermelho, da marca Sisal. O tingidor molha a madeira, o que provoca o arrepio das fibras. Para recuperar a textura lisa da madeira, esfregamos um taco de madeira macia após a completa secagem do tingidor. Esta técnica é muito utilizada pelos torneiros, que dão polimento esfregando aparas contra a peça em movimento. Afinal, se lixarmos a peça tingida, o tingidor também será removido.

Para a fixação dos pés, primeiro aplicamos cola no furo e um pouco no pino. O furo deve ser sempre um pouco mais profundo, para dar espaço para cola. Abrimos um ligeiro entalhe nos pinos, para que o ar e a cola pudessem escapar no momento do encaixe, e assim evitar uma pressão hidráulica indesejável, o que impediria o encaixe completo do pino.

Com a cadeira montada, finalizamos com cêra de carnaúba em pasta, para garantir a proteção da madeira e para dar um belo aspecto acetinado à cadeira.

O resultado foi o melhor; uma cadeira leve, confortável e com formas precisas. Um “new approache” da velha cadeira Bacalhau, reconhecida pela beleza de seu aspecto simples e funcional.



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